A GÊNESE DO PENSAR DE RANGANATHAN:
um Olhar sobre as Culturas que o influenciaram

por: Fernando Antonio Miranda Sepúlveda
Mestre em Ciência da Informação, IBICT/UFRJ

RESUMO
Adota-se como ponto de partida que a gênese do pensar de Ranganathan foi fruto de sua visão holística do Universo. sob influência das Culturas Brâmane e Chinesa e também da Astrologia. Seus Planos Ideacional, Verbal e Ideacional, bem como suas Cinco Categorias Fundamentais (PMEST) e parte de suas Cinco Leis da Biblioteconomia (primeira, segunda, terceira e quarta), mostram claramente a influência da Cultura Brâmane, ainda presentes na definição da Colon classification e na importância da Documentação face ao boom informacional. A influência da Cultura Chinesa é demonstrada em sua visão holística na definição de Universo do Conhecimento, da Espiral de desenvolvimento de assunto e do Método científico. Sua divisão do Universo do Conhecimento em quadrantes e os conceitos de Ascendente, Descendente, Fundo do Céu e Meio-Céu mostram claramente a influência da Astrologia em sua visão holística.

SUMARIO

1 INTRODUÇÃO
1.1 Objetivo
1.2 Metodologia
1.3 Organização do Trabalho

2 CONCEITOS UTILIZADOS
2.1 Introdução
2.2 A Cultura Brâmane
2.3 A Cultura Chinesa
2.4 A Astrologia

3 RANGANATHAN
3.2 Biografia
3.3 O Ser Ranganathan
3.4 Contribuições de Ranganathan para a Ciência da Informação

4 Os Dados
4.1 Cultura Brâmane e Ranganathan
4.2 Cultura Chinesa e Ranganathan
4.3 Astrologia e Ranganathan

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1 INTRODUÇÃO

Hoje, as Ciências voltam sua atenção para o Holismo. Elas redescobriram que qualquer problema pode ser visto através de uma abordagem ampla e interconexa e não através de uma visão reducionista da realidade.

Mas, se o Holismo hoje é redescoberto no Ocidente como uma das fórmulas de resolução para os problemas de nossa sociedade complexa, os Orientais há milênios trabalham com ela. Toda a Cultura Oriental se baseia nessa visão holística de Mundo, influindo em todas as suas áreas de saber. Um exemplo marcante do Holismo na Cultura Oriental, cuja presença vem se tornando igualmente marcante hoje no Ocidente, é sua Medicina, que trata do Homem como um Todo, observando sua relação com o Universo.

Na Ciência da Informação, seu representante maior é Ranganathan. Ele nasceu na India, pertencendo à casta dos brâmanes, por isso foi educado conforme a tradição brâmane. Se gradua em Matemática e Língua Inglesa. Faz pos-graduação e estágio em Biblioteconomia na Inglaterra. Quando retorna à India revoluciona a teoria da classificação até então vigente, estabelecendo um marco histórico e influenciando os sistemas de classificação posteriores. Impacta, também, todo o movimento de Biblioteconomia na India e no Mundo e a então emergente Ciência da Informação.

O Objeto da pesquisa é Ranganathan e sua visão holística. No presente trabalho, mostramos que sua visão holística foi influenciada pelas Culturas Brâmane, Chinesa e pela Astrologia.

1.1 Objetivo

O Objetivo do presente estudo é identificar os principais traços culturais que influenciaram a visão holística de Ranganathan nos seus aspectos estático e dinâmico, através da gênese de seu pensar.

1.2 Metodologia

A Explanação foi selecionada como método no presente trabalho pois, como nos mostra Kaplan [ARAUJO, 1994, p.15], ela pode ser vista como uma descrição concatenada de fatos, que não invoca algo além do que foi descrito, mas relaciona fatos ou Leis já descritos, quer entre si, quer com outros. Esta concatenação de elementos produz um foco de luz que ilumina o que está sendo explicado.

Este método se mostrou o mais adequado à natureza do trabalho uma vez que, ao cotejarmos os conceitos básicos da Cultura Oriental - conforme se encontram nos clássicos brâmanes Bhagavad Gita e Upanishads, nos clássicos chineses Tao te Ching e I Ching e em Sasportas, sobre as Casas Astrológicas -, com o pensamento de Ranganathan, conforme se encontra em suas obras fundamentais, a saber, os Prolegomena to Library Classification, Five Laws of Library Science e Colon Classification -, um novo olhar sobre seu pensar nos é possibilitado.

O levantamento feito na literatura da Ciência da Informação serve para visualizarmos a linha de atuação de Ranganathan, que se dá basicamente através da Documentação.

Um estudo comparativo entre citações de Ranganathan e de clássicos brâmanes e chineses comprova a influência das Culturas Orientais nas obras fundamentais de Ranganathan. O mesmo é feito em relação à Astrologia.

1.3 Organização do Trabalho

Inicialmente, definem-se os conceitos trabalhados na pesquisa (Capítulo 2), necessários para confrontação com a obra de Ranganathan. A seguir, focaliza-se Ranganathan: sua biografia, seu Ser e suas contribuições para a Ciência da Informação (Capítulo 3). O Capítulo 4 trata da análise e interpretação dos dados, confrontando citções de Ranganathan com as dos clássicos brâmanes e chineses e também com as do astrólogo Sasportas.

Sumario

2 CONCEITOS UTILIZADOS

2.1 Introdução

Neste Capítulo são vistos os conceitos básicos das Culturas Brâmane e Chinesa para a análise da obra de Ranganathan. Incluem-se também conceitos relacionados à Astrologia que compartilham, com aqueles, da visão holística da realidade.

Cultura é

"o modo de relacionamento humano com o seu real. E real é aquilo que, resistindo a toda caracterização absoluta se apresenta como estritamente singular, como único" [SODRÉ, 1988, p. 49].

Cultura Brâmane é o modo de relacionamento dos brâmanes com o seu real.

Cultura Chinesa é o modo de relacionamento dos chineses com o seu real.

Astrologia é a ciência que estuda a relação do homem com o Cosmo.

Cosmo é o estudo do Universo e da Natureza, considerados como um Todo organizado e harmonioso.

Holismo é

"o estudo do todo. Este todo diversifica-se ciclicamente numa multiplicidade de partes que, por sua vez, são todos, que têm partes, que também são todos. Mas a Unidade fundamental está sempre presente porque cada todo - grande e pequeno, átomo, homem ou galáxia - está relacionado com todos os outros todos numa rede de relacionamentos inifinitamente complexa. Flui através de cada um desses todos um tipo de poder unificador que os místicos e ocultistas, herdeiros das tradições da Era Vitalística da Humanidade, muitas vezes denominaram de Vida Una. É a vida do Todo universal que essencialmente permanece sempre Um, apesar de superficialmente parecer fragmentado numa miríade de pequenos todos, que são apenas condensações temporárias da energia de Espaço - Espaço, considerado como totalidade de ser, de consciência e de atividade harmoniosa (em sânscrito SAT-CHIT-ANANDA) [RUDHYAR, 1980, p. 78]

Embora o termo holismo seja de uso recente - foi primeiramente formulado por Smuts [RUDHYAR, id.], em 1926, no livro Holism and evolution -, seu conceito surge na mais remota história da Humanidade, na civilização dos sumérios, entre 3500 e 2500 a.C.

Os sacerdotes do povo sumeriano, através da observação do ciclo do plantio e o das estrelas, descobriram a interrelação dos mesmos. Também por longas e meticulosas observações descobriram que havia além do Sol e da Lua cinco outras esferas visíveis (Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno), que se moviam entre as estrelas fixas em trajetórias determinadas, de acordo com leis determinadas, segundo rotas traçadas pelo Sol e pela Lua. Induziram então, por suas observações descritas acima, que as leis que governavam os movimentos das sete esferas celestes de alguma forma deveriam ser as mesmas que governavam a vida e o pensamento do homem sobre a Terra (nascia então a Astrologia). Toda cidade era concebida como uma imitação na Terra da Ordem Cósmica, um Cosmo intermediário, ou Mesocosmo, entre o Macrocosmo do Universo e o Microcosmo do indivíduo, revelando a forma única e essencial de tudo. Essa forma única e essencial de tudo foi chamada pelos sumerianos de Ordem universal. Este conceito, que mais tarde com Smuts se chamaria holismo, influenciou as Culturas sucessoras, egípcia, chinesa e indiana. O termo egípcio para essa Ordem Universal era Ma'at; na India é Dharma; e na China, Tao [CAMPBELL, 1992].

Esta visão de forma única e essencial de tudo (o Holismo), continua sendo a visão das Culturas Indiana, Chinesa e da Astrologia. Na India, toda a filosofia fundada nesta visão está sob a guarda da casta sacerdotal indiana, de onde emana a Cultura Brâmane.

Segundo Heine-Geldern [HEINE-GELDERN, 1956, p. 90-99], o conceito de holismo é difundido para o Ocidente através de Creta por volta do ano de 2600 a.C. Para este autor, o holismo é uma necessidade psicológica do ser humano de juntar as partes de uma ampla e socialmente diferenciada comunidade - compreendendo uma série de classes que foram formadas pelos sumerianos (sacerdotes, reis, mercadores e camponeses) em uma relação ordenada umas com as outras e, ao mesmo tempo, de sugerir a ação entre elas de um princípio vivificador superior, que tudo preenche e tudo informa - que foi satisfeita com o reconhecimento, em algum momento no quarto milênio a. C. pelos sumerianos, da ordenada dança giratória dos cinco planetas visíveis, do Sol e da Lua, através das consteleções do Zodíaco.

Este conceito de holismo irá influenciar os primeiros pensadores gregos - Tales, Anaximandro e Heráclito, conhecidos como os sábios da escola de Mileto - que acreditavam que existe uma unidade/totalidade, onde tudo e todos estavam inseridos.

Mas, segundo Whyte [WHYTE, 1954], com a escola Eleática, da qual Parmênides foi seu principal contribuidor, surge uma nova visão de realidade, com a criação de um princípio divino posicionado acima de todos os deuses e homens, deixando para os atomistas gregos Leucipo e posteriormente Demócrito marcarem uma linha bastante nítida entre espírito e matéria. Surgem, então, duas abordagens diferentes no mundo ocidental, a da escola holística e a da atomística.

Ainda segundo Whyte [WHYTE, 1954], a ciência ocidental é fruto da escola atomística, a qual, com contribuições posteriores de Platão, Aristóteles, São Paulo, Galileu, Descartes, Newton e Bacon, apoiou-se até o início do Século XX em conceitos não holísticos e sim fragmentários.

Em meados do Século XX, vemos não somente a criação do termo holismo como também a volta aos seus conceitos para explicar a realidade, vista pelos ocidentais. Este grande avanço ocorreu principalmente em virtude das descobertas da física quântica de Bohr, Schrödinger, Heisenberg, Dirac e da teoria do Caos de Lorenz, Feigenban, Hofstadter e Koch.

Os físicos quânticos descobriram, entre outras coisas, que a matéria subatômica ora se apresenta como partícula, ora como onda e que elas todas estão ligadas intrinsecamente umas com as outras.

Os pesquisadores da Teoria do Caos descobriram que, nas profundezas do caos está uma ordem fantástica, onde tudo está interligado como bem podemos ver através de Richardson [apud GLEICK, 1990] que, sobre os atratores estranhos, disse:

"grandes espirais têm pequenas espirais, que se alimentam da velocidade delas. E pequenas espirais têm espirais menores, e assim por diante."

Os pesquisadores do caos chamaram esta Ordem de auto-embutição da complexidade que vai até o infinito. Precisava-se, então de uma nova visão de realidade que os físicos foram buscar no holismo.

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2.2 A Cultura Brâmane

A Cultura Brâmane é holística porque considera que existe uma unidade única, Brahman, onde tudo está inserido (Individualidades que são Unidade/Totalidade). A Cultura Brâmane trabalha tanto com a unidade quanto com a pluralidade (os Devas, Asuras, Purusha, Prakriti e Atman), sendo essa pluralidade uma forma particular, não desassociada do Um. A realidade delas se dá por causa do Um, Brahman.

Brahman, a realidade última, é entendida como sendo a 'alma' ou essência interna de todas as coisas. Ela é infinita e está além de todos os conceitos. Ela não pode ser apreendida pelo intelecto nem adequadamente descrita em palavras: 'Brahman, sem princípio, supremo. Além do que é e além do que não é.' 'Incompreensível é essa alma suprema, ilimitada, não nascida, sobre a qual não se pode raciocinar, inacessível ao pensamento.' Contudo, as pessoas querem falar acerca dessa realidade e os sábios hindus, com sua propensão característica para o mito, representaram Brahman como divino e sobre ele se expressam em linguagem mitológica. Os diversos aspectos do Divino receberam os nomes dos inúmeros deuses adorados pelos hindus, mas os textos deixam bem claro que todos esses deuses são apenas reflexos da realidade última.
'Assim falam essas pessoas, Adorai este deus! Adorai aquele deus! - um após o outro. Todos, na verdade, são criação sua [de Brahman]. E ele mesmo é de todos os deuses.'
A manifestação de Brahman na alma humana é chamada Atman, e a idéia de que Atman e Brahman, a realidade individual e a realidade última, são Um, constitui a essência dos Upanishads: 'Aquele que é a essência mais fina - O mundo todo o tem como sua alma. Aquele é a realidade. Aquele és Tu.'" [CAPRA, p. 72]

No gráfico 1, procuramos mostrar os principais conceitos da Cultura Brâmane que são Brahman, Brahma, Visnu, Siva, Maya, Conhecimento, Jiva (Purusha ou Atman).

A palavra Brahman deriva da raiz Brihm, que significa dilatar-se, fazer-se grande, impregnar todo o espaço, ser completo e perfeito. O substantivo Brahman é neutro: o Absoluto está além das classificações diferenciadoras de sexo e de todas as características limitadoras e individualizadoras, sejam quais forem. É a fonte oniabrangente e transcendente de todo o poder possível, e de todas as formas. É a realidade imutável atrás de todas as mudanças e que só pode ser descrito por meio da expressão 'não é isso, não é isso.'[TATTWABODHAH]

Os seres individuais são chamados Jiva (Purusha ou Atman). Como o Ser Brahman permeia todos os Seres Individuais, então o Ser Individual é idêntico ao Ser Brahman [SWETASVATARA, 1993, p. 139-153].

Maya é o poder de Brahman, que se manifesta através de Brahma (por isso é conhecido também como o poder do Criador), que o envolve, fazendo-o parecer diferente do que realmente é. Divide ao infinito Brahman, que não tem nome, forma nem qualidade, nos centros finitos de experiência, vestindo a estes com nomes, formas e qualidades. Maya é inescrutável e indeterminada. Maya é o véu que encobre a realidade, Brahman. Faz que o impermanente pareça permanente, que o impuro pareça puro, que a dor pareça prazer [BRAHADARANYAKA, 1993, p. 105-139].

É através do Conhecimento (que é a percepção e assimilação que Tudo é Brahman) da identidade do Ser (Jiva, Purusha ou Atman), do Criador (Brahma) e de Brahman que se consegue se libertar de Maya. O Conhecimento para os brâmanes é de suma importância pois vai liberar o Jiva ou Purusha do ciclo do renascimento. O ciclo do renascimento se dá por causa de Maya [RIG VEDA, 1993].

Na mitologia brâmane, Brahma representa o aspecto positivo do processo vital do Universo, a fase criativa, a pura espiritualidade. Siva e Visnu representam os aspectos ou atitudes destrutivas ou preservadoras do Supremo. Nos seus mitos, Visnu converte-se em Siva, cuja aparência assume, quando faz suceder a dissolução periódica de todas as coisas. Os três representam o Absoluto, Brahman [RIG VEDA,1993].

Outros conceitos são importantes dentro da Cultura Brâmane, mas que não entram no gráfico 1, por motivo de simplificação do gráfico. São os conceitos de educação brâmane, yoga e complementaridade.

A educação brâmane é a forma pelo qual os brâmanes transmitem toda a sua Cultura. Nela, o aluno ou sadhaka necessita desenvolver certas qualificações para o aprendizado do conhecimento. Para aquisição desta qualificação é necessária a prática de yoga, que deve começar cedo. Esta é a mais importante prática para a qualificação de um sadhaka, que deve possuir fortaleza e vitalidade. Aquele que tem uma mente calma e que confia nas palavras de seu guru e na dos mestres de seu guru, que é moderado em comer e dormir e que deseja ardentemente liberar-se da roda de vida e morte, é uma pessoa qualificada para a prática do Yoga.

O sadhaka deve desenvolver as seguintes virtudes: fotaleza, serviço ao guru, aos enfermos e aos anciães, não-violência, generosidade espontânea, espírito de serviço, altruismo, tolerância, humildade e outras virtudes em seu mais elevado grau. Sivananda [SIVANANDA, 1979, p. 121] nos fala sobre isso:

"Com a ausência de tais virtudes, e embora no caso de se haver dspertado a kundalini mediante exercícios yoguicos, nenhum yogue alcançará êxito."

Os aspirantes ao conhecimento, segundo os brâmanes, devem abrir francamente seu coração a seus professores, devem ser leais e cândidos, devem renunciar a suas próprias convicções e à forte veemência, devem renunciar à vaidade e à arrogância e cumprir as instruções de seu Mestre com firmeza e diligência. Um real sadhaka é um homem de poucas palavras, as quais emprega somente em sentido espiritual. O sadhaka deve sempre permanecer só. A voz do silência é seu grande tesouro.

Segundo a filosofia Vedanta (que professam os brâmanes), Yoga é aquele processo em virtude do qual os princípios Jivatma (o homem) e Paramatma (Deus no homem) se reconhecem idênticos. Estes princípios são realizados pelos yogues e praticantes de Yoga. É o Yoga que permite os meios de nos liberarmos de Maya, ou seja, do véu que faz o espírito pensar que é um indivíduo (Jiva) separado do Um (Brahman). Como nos disse Gheranda-Samhita [SIVANANDA,1979, p. 121], "não existe corrente tão forte igual a Maya e nem poder maior para destruí-la que a Yoga."

A Yoga como forma de disciplina é utilizada pelos Brâmanes para a purificação da mente, como nos fala o Grande Bhagavan, no Bhagavad Gita [BHAGAVAD GITA-1, Capítulo V, canção 11:

O yogui, tendo-se libertado de todo o apego, executa as ações do corpo, da mente e do intelecto, e até dos sentidos, sempre com o fim de purificar a mente, e sem qualquer motivo egoista."

Outro conceito importante, dentro da Cultura Brâmane, é o conceito de complementaridade, na qual todos os opostos são complementares, o que é bem exemplificado pelo mito brâmane de Siva Nataraja:

"Ora: Na trindade Shivaita de Elefanta vimos que os dois perfis expressivos, representando a polaridade da energia criativa, estavam em contraposição apenas a silenciosa cabeça central, que significa a imutabilidade do Absoluto. Deciframos esta relação simbólica como uma expressão do paradoxo eternidade-tempo: o oceano tranquilo e o rio tumultuoso não são, afinal, distintos. O Self indestrutível e o ser mortal são, em essência, o mesmo. Esta lição maravilhosa pode ser também depreendida da figura Siva-Nataraja, na qual o movimento incessante e triunfal dos membros ondulantes estabelece um significativo contraste com a estabilidade da cabeça e a imobilidade do semblante de máscara. Siva é Kala, o Negro, o Tempo; mas ele é, também, Maha Kala, o Grande Tempo, a Eternidade. Como Nataraja, Rei dos Dançarinos, os gestos do Deus, arrebatados e cheios de graça precipitam a ilusão cósmica; os braços e pernas velozes, o ondular do torso produzem - e são, na realidade - a contínua Criação-Destruição do Universo, a morte contrabalançando de modo preciso o nascimento, a aniquilação com o fim de cada criação." [ZIMMER, 1989, p. 148]

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2.3 A Cultura Chinesa

A Cultura Chinesa, altamente influenciada pelo I Ching, o Livro da Sabedoria, também é holística, pois prega uma Unidade Dinâmica, composta de opostos complementares que estão interrelacionados uns com os outros, e que forma todos os diferentes ciclos de mutação do Universo. Recorrendo a Capra [CAPRA, 1983 p. 91], mais uma vez, ele nos fala

'Os Taoistas consideravam todas as mudanças da natureza como manifestações dinâmicas entre polaridades yin e yang, o que acabou por levá-los a acreditar que qualquer par de opostos constitui uma relação polar na qual cada um dos polos se acha dinamicamente vinculado ao outro. Para a mente ocidental, essa idéia da unidade implícita de todos os opostos é extremamente difícil de aceitar. Parece-nos bastante paradoxal que as experiências e os valores que sempre acreditamos fossem opostos sejam, afinal das contas, aspectos da mesma coisa. No Oriente, entretanto, sempre se considerou o dirigir-se para 'além de todos os opostos concebíveis' essencial para chegar à Iluminação. Na China, a relação polar de todos os opostos encontra-se na base mesma do pensamento taoista. É Chuang Tsé quem afirma: "O 'isto' é também 'aquilo'. O 'aquilo' é também 'isto' [...] Que o 'aquilo' e o 'isto' deixem de ser opostos, eis aí a essência mesma do Tao. Somente esta essência, como se fosse um eixo, constitui o centro do círculo que responde às mudanças incessantes".

Os principais conceitos da Cultura Chinesa são: Tao, Yang, Yin e os Trigramas.

Para a Cultura Chinesa o Tao é a essência secreta de todas as coisas, o mistério mais insondável. Ele é imanente e também transcendente. O Tao e o Um além de nomes, que se tornando Dois gerou de si mesmo as "Dez mil coisas" e está, portanto, contido em cada uma delas como a Lei [I CHING].

O diagrama chinês, conforme a figura 1, da palavra Tao representa geometricamente uma interação de dois princípios. O Yang, o princípio claro, masculino ou ativo, quente, seco, benéfico, positivo e seu oposto, o Yin, escuro, feminino ou passivo, frio, úmido, maligno e negativo. Eles estão inclusos em um círculo do qual cada um ocupa a metade, representando o momento (que é sempre) em que geram as "Dez mil coisas". O Yang e o Yin estão presentes em todas as coisas. Eles não podem ser separados, tampouco podem ser julgados moralmente como bom ou mau. Funcionando juntos, em constante interação predomina, ora um, ora outro. E sua interação é o Universo das "Dez mil coisas"[TAO TE CHING].

Figura 1 Diagrama chinês da palavra Tao

No Tao temos as polaridades Yang - representada pela linha cheia - e Yin - representada pela linha interrompida. A linha cheia por causa de sua associação com o princípio masculino Yang é celestial (claro, seco, quente, ativo) e a linha interrompida, por sua associação com o princípio feminino Yin, é terreno (escuro, úmido, frio e passivo). A combinação dessas linhas cheias e interrompidas constituem os Trigramas, que servem para mostrar todos os estados de mutação que podem ocorrer, segundo a Cultura Chinesa, nos Mundos Celestial e Terreno.

A figura 2 nos proporciona uma visão do holismo na Cultura Chinesa, mostrando o Tao e sua emanação através das linhas cheias e interrompidas [I CHING].


Figura 2 - Hexagramas do I Ching

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2.4 A Astrologia

Na Astrologia, seu caráter holístico é visível em seu próprio simbolismo essencial. Ela parte do estudo da mandala, que é um círculo. O círculo representa o eterno, o imutável, de onde provêm todas coisas. Dentro da mandala, começam as diferenciações e as particularizações. Os elementos e os ritmos, por sua vez, irão se particularizar e se diferenciar, e assim por diante. Só que tudo o que ocorre, ocorre dentro da mandala e por sua causa, de uma maneira totalmente interconexa, onde o todo influencia as partes, que por sua vez influenciam o todo, simultaneamente (ver gráfico 2).

A esse respeito, Stephen Arroyo [ARROYO, 1978, p. 53] nos fala:

"Um grande perigo em qualquer tipo de estudo oculto é o de o estudante poder se perder nas intermináveis manifestações periféricas da Unidade, deixando, assim, de ver tudo como apenas um reflexo ou aspecto da realidade central, unificadora. A Unidade que aparece aos altos níveis da consciência psicológica estilhaça-se quando refletida nos mais baixos níveis do ser. Quanto mais nos afastamos da realidade central, mais diversa e contraditória a vida surge. No entanto, à medida que nos harmonizamos com esse centro, com essa mais alta Unidade, percebemos, com crescente clareza, que o horóscopo de nascimento é um símbolo integral, unificado e vivo; que uma pessoa não é apenas um composto de muitos fatores diversos, mas uma unidade viva de potencial divino. E os processos de aperfeiçoamento com que a Astrologia lida (por exemplo, trânsitos e progressões) não são ciclos isolados que ocasionalmente coincidem, são antes aspectos de uma consciência psicológica unificada e em desenvolvimento que trabalha simultaneamente a muitos níveis distintos e em muitas dimensões diferentes."

Vimos que as Culturas Brâmane, Chinesa e a Astrologia possuem uma visão holística da realidade. É preciso salientar, no entanto, que não tivemos preocupação em esgotar o assunto, mas em salientar os aspectos fundamentais à compreensão do pensamento de Ranganathan.

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3 RANGANATHAN

3.1 Introdução

A idéia deste capítulo é apresentar a figura central do trabalho, Ranganathan, em termos de dados biográficos e de características de seu ser, principalmente em relação à sua educação como brâmane. Também são apresentadas suas contribuições para a Ciência da Informação. Com isto, temos um embasamento para estudarmos melhor a gênese de seu pensar.

3.2 Biografia

Shiyali Ramamrita Ranganathan nasceu em 12 de agosto de 1892 em Shiyali, no distrito Tanjur do Estado de Madras, quando a India estava sob dominação britânica. Faleceu aos 80 anos, no dia 27 de setembro de 1972, em Bangalore.

Sua família pertencia à comunidade dos brâmanes. Seu pai faleceu quando ele tinha seis anos. Ele cresceu sob influência de seu avô, que era professor e brâmane, e também de dois de seus professores do primário, que também eram brâmanes. Estes homens, que detinham o saber bramânico dos livros sagrados hindus, despertaram-no para o profundo respeito e amor pela literatura sacra hindu, o que certamente influenciou sua vida e suas obras [CHAKRABORTY, 1988, p. 68-99].

Em 1909, entra para a Universidade Católica de Madras, recebendo seu bacharelado em 1913 e seu mestrado também em matemática em 1916. Em 1917 recebe seu diploma de Professor de Língua Inglesa da Universidade de Lingua Inglesa em Saidapet, Madras. Começa sua vida profissional ensinando física e matemática em colégios públicos indianos. Mais tarde é aprovado em concurso para ser bibliotecário na Universidade de Madras. Foi-lhe oferecido um curso de Pós-graduação em Biblioteconomia em Londres [SINGH, 1979, p. 158-68].

É uma ironia que esse homem que mais tarde se tornou totalmente devotado à Biblioteconomia, tenha entrado nela no começo contra sua vontade, visto que foi com muita relutância e por uma grande insistência de um de seus melhores amigos, que Ranganathan prestou concurso para a Universidade de Madras [KUMAR, 1974, p.159-64]

Quando retornou de Londres, em 1925, implementou um programa de reformas na Biblioteca da Universidade de Madras no que concerne à administração de pessoal em bibliotecas, equipamentos de bibliotecas, normas de classificação e catalogação. Ranganathan ficou profundamente impressionado pela orientação comunitária dessas Bibliotecas. Mas observou que as Biblioteas de Londres tinham diferentes serviços, técnicas, equipamentos e construções. Também observou que cada Biblioteca tinha se desenvolvido de forma independente, sem pensar em desenvolver princípios comuns a todas. Assumiu para si, então, a tarefa de tentar unificar todos os princípios [SINGH, idem].

Ranganathan escreveu cerca de cinquenta livros, mil artigos em Ciência da Informação (incluindo projetos de atos normativos) e aproximadamente outros nove mil artigos sobre assuntos diversos. Sua Teoria está apresentada praticamente em cinco obras básicas: Five Laws of Library Science, 1931, Colon Classification, 1933, Prolegomena to Library Classification, 1937, Philosophy of Book Classification, 1951, e Elements of Library Classification, 1962 [SATIJA & SHARMA, 1986, p. 128-35]

Ranganathan foi mais do que um modernizador da profissão bibliotecária. Ele revolucionou a profissão na India e no Mundo através da sólida contribuição de suas obras em todos os aspectos. Foi um fabuloso autor, começando a escrever em 1916 e só terminando mais de meio-século depois, com sua morte. O maior impacto de suas obras deu-se pelo seu esquema de classificação. Ele cria o primeiro esquema de classificação facetado do mundo. Muitos autores e cientistas da biblioteconomia consideram seu esquema o mais elegante, em relação a todos os outros já escritos [DUTT, 1973, p. 48-51].

Com a publicação de suas obras, ele eleva a Biblioteconomia à condição de Ciência, com métodos próprios. Também por causa de suas publicações consegue abrir na Universidade onde trabalha o primeiro curso de graduação em biblioteconomia e, pouco tempo depois, o primeiro curso de pós-graduação. O mestrado na Universidade de Madras foi conseguido graças à qualidade de suas obras básicas acima citadas [SINGH, idem].

Com sua ascensão profissional consegue fundos governamentais e privados que possibilitam a cada Estado Indiano ter sua biblioteca pública bem como o aumento do número de Faculdades de Biblioteconomia na India [SINGH, idem]

Passamos agora a estudar o ser Ranganathan, para buscar vislumbrar como o completo amadurecimento e integração de um indivíduo pode produzir tamanha qualidade de obras.

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3.3 O ser Ranganathan

Os valores, os costumes e a educação inglesa tiveram forte influência na India da época de Ranganathan, principalmente entre as classes mais favorecidas. Ele pertencia à casa dos brâmanes, uma das classes favorecidas da India. Cresceu, ainda, sob forte influência britânica e pode-se ver claramente esta influência no seu gosto em sua graduação em língua inglesa e sua erudição na mesma fica reforçada pelo fato de haver se pós-graduado em Londres. Seus amigos diziam que ele era uma prova da junção da tradição indiana com a era vitoriana, refletindo a mesma até em seus hábitos diários. Um bom exemplo desse hábito era sua maneira de vestir-se, uma combinação de trajes indianos e britânicos [KUMAR, idem]

A Educação brâmane é muito rigorosa. A Astrologia e a Matemática, além do sânscrito, são disciplinas importantes nessa educação. Isso se deve ao fato de que, para a compreensão da realidade única, segundo os brâmanes, são necessários alguns pilares mestres, como aquelas disciplinas.

A Astrologia liga o homem ao universo, como acreditam os brâmanes, mostrando a relação existente entre a natureza, o homem e ao universo.

A Matemática é a base de apoio da Astrologia; a Matemática permite desvelar toda a realidade concebível, através do estudo da ordem e dos ciclos do universo. Define, portanto, a hierarquia e o ritmo. O estudo da matemática para compreensão dos ciclos, ordem e hierarquia do Universo, através da utililzação de números, encontra-se com maior ênfase nas culturas chinesa e judaica (através da cabala).

Por fim, o sânscrito que, para os brâmanes, é uma forma de comunicação direta dos homens com os deuses.

Assim, por sua educação, vemos em Ranganathan o profundo respeito pela língua mãe, o sânscrito, pela Matemática e pela Astrologia. Todas estas disciplinas parecem ter sido utilizadas como base de construção de suas obras na Biblioteconomia.

A educação brâmane que ele teve na infância foi de grande determinação para toda a sua vida. Ranganathan tinha uma grande familiaridade com o Ramayana, mas não foi este o único clássico que o influenciou. Normalmente recitava o Ramayana e o comparava com o Senhor Krishna, do Bhagavad Gita, quando transpunha este conhecimento para explicar algum ponto obscuro dentro de sua teoria da classificação, ou mesmo para um melhor entendimento do que estava falando ou escrevendo.

Esta educação propiciou-lhe o desenvolvimento de certas características, como disciplina, sentido do dever, respeito ao mestre na relação de professor/aluno, concentração, memória, religiosidade e intuição.

Sua forte disciplina e sua espartana alimentação foi mencionada por vários de seus colegas, alunos e colaboradores, como podemos ver em Girja Kumar [KUMAR, idem]:

"Ranganathan desenvolveu uma certa gagueira, que continuou até depois de se tornar professor. Ela acabou quando, como secretário da Associação de Matemáticos, no Colégio Católico de Madras, ele foi forçado a propor um voto de agradecimento na reunião. Por volta de uma hora da reunião começada, Ranganathan sentia-se com torpor e não ouvia nada. Ele estava silenciosamente rezando. Então veio o momento de propor o voto de agradecimento. Ele levantou-se, fechou os olhos, imaginou que não havia audiência em frente a ele, e fez uma curta fala. Estava molhado de suor, mas sua gagueira tinha ido embora. Esse tinha sido um puro ato de controle que repetiu várias vezes novamente."

A disciplina está presente ainda na Yoga e no comportamento do sadhaka. Ranganathan foi considerado um grande Yogui. Sobre isso recorremos a uma citação de Seshadri [SESHADRI, apud GARFIELD, 1984, p. 152]:

"Muitos de seus seguidores viam a ele como um Yogui. Ele concentrava todo o seu corpo, sua mente e sua alma na disciplina da Biblioteconomia. Seus seguidores acreditavam que ele tinha abraçado esse preceito como uma parte da perfeição espiritual."

Um Sadhaka, ou aluno, deve observar uma perfeita disciplina. Deve ser amável, cortês, gentil, nobre e ter a gratidão no coração. Deve ter perseverança, conduta prestativa, paciência e persistência no cumprimento de seus deveres, perfeito controle mental e devoção a seu Guru (professor). Ranganathan, por ter sido um sadhaka, adquiriu certas qualidades que carregou por toda a sua vida adulta.

Faz parte da tradição brâmane atribuir grande importância à relação mestre/discípulo, daí

"a grande preocupação dos alunos de Ranganathan, de quem poderia sucedê-lo, conforme a tradição Guru-Chela. Ranganathan ensinou a vários discípulos, para que pudessem até superá-lo; assim, a cadeia Mestre-Discípulo para a passagem do conhecimento estaria assegurada." [DUTT, op. cit.]

Ranganathan era uma pessoa religiosa, como resultado de sua formação brâmane. Ele acreditava no místico ou no que chamava de experiência espiritual. A criatividade foi direcionada por ele para o misticismo, acreditando que, excetuando os grandes líderes espirituais, todos os outros tinham de fazer uma rigorosa disciplina intelectual para aumentar a criatividade. O trabalho duro é fundamental para todos os mortais, na busca do aumento de criatividade [DUTT, idem].

Importante na educação dos brâmanes é o conceito de Dharma, o correto dever ou a correta ação. Toda a sociedade indiana, que tamém tem forte influência da cultura dos brâmanes, vive conforme os preceitos do Dharma. A sociedade indiana foi dividida em castas tendo como base o Dharma. Cada casta deve cumprir os seus deveres específicos. Vemos o conceito de Dharma fortemente estruturado em Ranganathan, influindo de maneira significativa em sua vida e em sua obra.

Para verificação deste fato recorremos a dois autores. O primeiro é Seshadri [SESHADRI, apud GARFIELD, 1984, op. cit]: "Sua abnegação e devoção pessoal para o trabalho estava fundamentada em sua profunda religiosidade."

Esta abnegação e devoção pessoal mostram seu correto entendimento do conceito de Dharma, bem como sua utilização do referido conceito.

O segundo, é Guru Dutt [DUTT, op. cit] que nos fala:

"Ranganathan deu todo o dinheiro recebido de direitos autorais de seus livros como doação para propagar o conhecimento. Ele foi um dos que mais contribuiu na propagação do conhecimento através da renúncia."

A renúncia ocorre quando o homem não mais se apega aos frutos da ação e quando compreende totalmente o sentido do Dharma. Como nos fala o Bhagavan no Bhagavad Gita, quando o homem está livre do apego dos frutos das ações, da ação mesma, e dos objetos do mundo dos sentidos, então atingiu o mais alto grau da reta ação e tornou-se um Yogui perfeito. Foi o que ocorreu com Ranganathan, pois ele tinha a correta compreensão do que era o Dharma e, como Brâmane que era, o seguia à risca, como fica claro nas duas citações mencionadas acima.

Ranganathan era um homem profundamente religioso, com um forte poder intuitivo. Por ser Brâmane, aprendeu várias técnicas e praticou vários exercícios que lhe propiciaram alto grau de intuição, ajudando-o muito, mais tarde, em sua vida profissional. Ele conta que Five Laws of Library Science e Prolegomena to Library Classification foram frutos de um grande processo intuitivo que teve. Dentre os exercícios que favorecem o desenvolvimento da intuição, pode-se destacar o sirshasana, que desenvolve as faculdades psíquicas e intuitivas. Dentre as técnicas, citam-se as de visualização, concentrção e meditação [KUMAR, op. cit].

Ranganathan teve de modificar seu estilo literário para a forma científica, de estilo lógico e metodológico. A este respeito nos fala Girja Kumar [KUMAR, op. cit]:

"Para uma excelência científica, Ranganathan tornou-se adepto incondicional da lógica. Mas, para ele não foi custosa a mudança, pois ele estava embasado na literatura e escritos religiosos hindus, de estruturas totalmente lógicas. Os Sutras são as melhores expressões disso."

Complementaridade é outro conceito presente em Ranganathan. Relaciona-se com o uso harmonioso dos dois hemisférios de seu cérebro, pois Ranganathan era formado em Matemática e em Literatura inglesa, duas áreas de saber totalmente complementares, cada uma delas com regência diferente dos hemisférios cerebrais esquerdo e direito. Esta capacidade, desenvolvida graças à sua educação - Ranganathan sabia que existe a Dualidade, que nada mais é do que o Um, de onde tudo emana e para onde tudo retorna; sabia também da necessidade de trabalhar de uma forma integrada com o Um, o Dois e o Múltiplo - ajudou-o muito em sua vida profissional. Na tentativa de mostrarmos esse ponto, recorremos a Girja Kumar e a Zimmer. Girja Kumar [KUMAR, op. cit] nos fala:

O ser humano tem sido dividido em românticos e realistas. Existem os tradicionalistas, os modernos, os conservadores e os radicais; outros, ainda, dividem o ser humano em otimistas e pessimistas. A moderna psicologia tem conclusivamente provado que a linha de demarcação entre dois opostos pode ser muito tênue em muitos dos casos. Seres humanos têm características bissexuais, onde o consciente do homem é masculino e seu inconsciente é feminino. Sendo na mulher o oposto, seu consciente, feminino e seu inconsciente, masculino. A pessoa normal reflete principalmente as características do sexo a que pertence, mas sempre traços do inconsciente surgem ou invadem o consciente. Para Ranganathan, é difícil enquadrá-lo numa categoria ou noutra. Poucos sabem que quando Ranganathan começou a ensinar matemática, também graduava-se em literatura inglesa. De fato, em todas as obras que escreveu sobre Ciência da Informação, seu lado inconsciente de literato não estava trabalhando e sim seu lado consciente de cientista.

Vemos que Girja Kumar tenta uma definição de Ranganathan através da psicologia, para explicar suas características marcantemente complementares. Ranganathan usou harmoniosamente seus dois hemisférios cerebrais de uma forma criativa, sabendo através de uma alegoria indu antiga, a de Siva Nataraja, em que a junção de energias complementares é a pura forma de criação, onde o Um, manifesto e eterno, rege sobre o mutável, fazendo possível a existência de tudo.

Vemos através da citação de Zimmer, no segundo capítulo desta dissertação, a explicação alegórica dada pelos brâmanes através do mito Siva Nataraja, da união de todos os opostos e de sua junção no processo criativo. Isto é ensinado pelos Brâmanes e foi bem absorvido por Ranganathan, fazendo com que o mesmo conseguisse harmonizar e trabalhar de forma criativa com seus dois hemisférios cerebrais.

Podemos falar que outras de suas características importantes como ser, foram: sua disposição fora do comum para o trabalho, o sentido da necessidade do trabalho em grupo e a capacidade de absorver conhecimentos estrangeiros e adaptá-los para a realidade indiana.

Sumario

3.4 Contribuições de Ranganathan para a Ciência da Informação

Ranganathan foi um personagem importante na Ciência da Informação por sua influência e contribuições. Para Thomas [THOMAS,1977, p. 51-53], foi extensa a influência de Ranganathan na América do Norte, verificada nos currículos de catalogação e classificação na educação profissional do referido país: 73% das Universidades Americanas nos cursos de Biblioteconomia incluiam a teoria facetada em sua instrução obrigatória. 50% tinha professores de Colon Classification. Na América do Norte houve uma mudança de currículo das Universidades para adaptar as mesmas contribuições significativas de Ranganathan.

Entretanto, sua influência também se deu pela assimilação e utilização de suas teorias por vários outros esquemas de classificação e em vários sistemas de informação, e nos cursos de informação e biblioteconomia e ainda nas práticas dos profissionais da informação e biblioteconomia nos Estados Unidos, no Canadá e no mundo todo [THOMAS, op. cit].

Segundo Srivastava [SRIVASTAVA, 1985, p. 173-76], Ranganathan legou muitas contribuições para aquelas áreas. Uma de suas contribuições fundamentais foi a pergunta que ele fez: "como o conhecimento é formado?", e todo o estudo que ele empreendeu durante toda sua vida na tentativa de elucidar esta questão. Ele sempre fazia as perguntas certas; e com isto, ele cria sua Era, suas próprias vitórias e seu reconhecimento na India e no Mundo.

Para Sengupta [SENGUPTA, 1988, p. 79-81], a grande lição que Ranganathan deu ao Continente Europeu foi a posição chave da classificação e dos sistemas de classificação no trabalho da Documentação e da Ciência da Informação. Para ele, a classificação e os sistemas de classificação não eram somente técnicas, mas também estruturas profundamente teóricas e sempre com implicações filosóficas. Ranganathan fez todos os esforços para que a classificação se tornasse uma disciplina, e conseguiu. A disciplina Classificação nasce na India por seus esforços, propagando-se depois por todo o mundo. No Continente Europeu ela é introduzida em 1975, graças aos colegas alemães - Prof. Arntz, Dra. Dahlberg e outros - com o nome de "classificação internacional". A classificação, como bem mostrou Ranganathan, é a base da organização do conhecimento. Essa organização é importante para a recuperação desejada.

Segundo Früs-Hansen [FRÜS-HANSEN, 1988, p. 83-87], um dos maiores fatores de desenvolvimento da Ciência da Informação e da Biblioteconomia foi o contínuo aperfeiçoamento da teoria de Ranganathan sobre Classificação e Documentação. Este contínuo aperfeiçoamento foi feito através de correções e anexos posteriores, bem como também por seus seguidores, que acrescentaram valiosas contribuições para sua teoria. Ranganathan, graças à sua educação brâmane, tinha uma mente meticulosa e perfeccionista. Esta sua qualidade foi de grande importância para os constantes desenvolvimentos e aperfeiçoamentos em sua teoria. Muitos de seus trabalhos foram reimpressos com novos desenvolvimentos, sendo que a Colon Classification chegou à sua sétima edição.

Ainda conforme Früs-Hansen [FRÜS-HANSEN, op. cit], as obras de Ranganathan são muito procuradas pelas escolas britânicas de Ciência da Informação e Biblioteconomia, nas quais seus cientistas, através de sua influência, criaram novos esquemas de classificação, além de novos sist4mas de informação.

As atividades de Ranganathan como professor e cientista não ficaram restritas ao seu trabalho. Ele era um educador, trabalhando segundo a tradição dos grandes gurus, onde sua casa era a extensão de seu trabalho. Recebia em sua casa a qualquer hora qualquer pessoa que quisesse discutir os problemas da Biblioteconomia ou da Ciência da Informação. Este fato contribuiu enormemente para o desenvolvimento das duas ciências na India [KAULA, 1981].

Segundo Satija [SATIJA, 1985], Ranganathan deu um grande impulso nas publicações científicas de sau país, através da fundação de várias revistas e periódicos científicos, e através do encorajamento e de auxílio a vários autores novos. Com isto, ele cria uma tradição na India de publicação de literatura científica. Ainda segundo Satija [SATIJA, op. cit.], não menos importante foram a quantidade e a qualidade de seus artigos, que propiciaram o aparecimento de mercado nacional e internacional para a venda das publicações científicas indianas.

Vale salientar que importantes editoras que hoje publicam livros e periódicos na India sobre Informação, Documentação e Biblioteconomia foram fundadas por Ranganathan. Ele acreditava que o grande salto da India, passando de país em desenvolvimento para desenvolvido, só poderia se dar pela utilização da Informação útil. Informação útil, segundo Ranganathan, é aquela recuperada de conformidade com a necessidade do solicitante.

A inserção de Ranganathan na Ciência da Informação se dá pela organização do conhecimento e pela recuperação da informação.

Identificou vários fatores que fazem crescer o conhecimento destacando, entre eles, o desenvolvimento da indústria da informação. Sabia que o Universo do Conhecimento é dinâmico e contínuo, pela velocidade do aumento do mesmo, em virtude do grande crescimento das informações científicas e tecnológicas. Cria, então, a Colon Classification com as mais modernas técnias de informática para poder organizar e recuperar o conhecimento existente. (INGWERSEN & WORMELL, 1986, p. 185-201]

Nesta área desenvolve um sistema de informação complexo através da criação de ferramentas adequadas e com as mais modernas técnicas da Informática e da Administração, orientados para os usuários. Seu sistema compreendia a Colon Classification, os Prolegomena to Library Classification, seus códigos e toda a regulamentação que envolve a recuperação da informação.

Mas Ranganathan só pode impactar tanto a Ciência da Informação por causa de sua visão holística, como fala Gopinath [GOPINATH, 1992, Editorial]:

"Ranganathan tinha uma visão holística de seu trabalho. Ele acreditava que qualquer peça de trabalho pertencia a um todo sistemático e integrativo. Não somente desenvolveu um corpo de conhecimento; regulou práticas, criou um sistema de administração, bem como também promoveu sua visão holística. Ele expressou sua visão do holismo dessa maneira."

Ranganathan consegue mostrar pela solidez e criatividade de suas coontribuições para a Ciência da Informação e para a Biblioteconomia a visão que ele tinha do holismo, responsável pela criação de seu Universo do conhecimento e sua representação, que revolucionou a India e o mundo.

Sumario

4 Os Dados

4.1 Cultura Brâmane e Ranganathan

Nesta Seção, dada a particularidade dos Dados, cada um é apresentado, seguido de sua análise e interpretação.

Brahman Dado 1 Chakraborty [CHAKRABORTY, 1988] fala sobre a utilização do conceito de Brahman como método residual para identificar a Categoria Personalidade. Segundo ele, Ranganathan recorre com muita propriedade à analogia com os clássicos sânscritos e os utiliza frequentemente para elucidar suas idéias. As cinco Categorias Fundamentais (P, M, E, S, T) foram uma das maiores contribuições para a área da classificação. Identificar Tempo, Espaço, Energia e Matéria, como ele disse, é comparativamente fácil. Mas ele prescreve um método residual para identificar a Personalidade. Na formulação deste método residual ele foi naturalmente influenciado pelo Brihad Aranyak Upanishad, onde Brahman é identificado por "não é isso, não é isso" (Capítulo segundo, terceiro Brahmana, sexto mantra). Segundo os brâmanes, Brahman, o Absoluto, não pode ser definido, pois está além das palavras. Por isso só pode ser conhecido pelo que ele não é.

Brahma Dado 2 Igualdade de conceitos do brâmane entre Brahma e o o Plano Ideacional de Ranganathan. Para Ranganathan [RANGANATHAN, 1967] seu Plano Ideacional é o plano das idéias, invisível e tolerante como Deus". Com essa definição utiliza o conceito brâmane de Brahma, como podemos ver no Bhagavad Gita [BHAGAVAD GITA], Capítulo VII, cântico 3:

"Poucos são os homens que, no meio dos milhares da raça, têm suficiente discernimento para desejar chegar à perfeição. E, destes poucos, tão raros são os que procuram com sucesso, que se acha apenas, cá e lá, alguém que me conhece em minha natureza essencial."

Estas Palavras são, segundo os Brâmanes, palavras do próprio Criador a Arjuna, seu discípulo. O Criador, para os brâmanes, é Brahma; e ele é invisível para aqueles que não têm o conhecimento da unidade de Brahman, o Absoluto.

Brahma Dado 3 Na primeira lei da Biblioteconomia de Ranganathan, vê-se a utilização de um conceito brâmane importante, o de função, que espelha a ordem contida no Criador, Brahma.

Em seu livro The Five Laws of Library Science, vemos que sua primeira lei é "Books are for use", ou seja, livros são para serem usados. Aqui o conceito brâmane de função está implícito. A fução dos livros é seu uso. Da mesma forma, para os brâmanes, tudo no mundo tem sua função, que espelha a ordem do Universo, ou seja, a ordem contida em Brahma, como se vê no Bhagavad Gita:

"Arjuna parece até ter-se esquecido dos códigos morais próprios dos Kshatriya. Diz-se que duas classes de homens, a saber, o Kshatriya que morre diretamente no campo de batalha sob as ordens pessoais de Krishna e a pessoa na ordem de vida renunciada que se dedicou por completo à cultura espiritual, estão qualificados para entrar no globo solar, que é tão poderoso e ofuscante." [Bhagavad Gita, p. 57]

O Kshatriya é a casta dos guerreiros na India. O sistema de casta na India parte do pressuposto que tudo e todos têm sua função particular no Universo. O do Kshatriya, como podemos ver, é de lutar por Krishna e do Brâmane é de se dedicar completamente à cultura espiritual. Na India, o conceito de função foi responsável pela criacão do sistema de castas, em que cada uma tem sua função dentro da Sociedade Indiana.

Visnu/Kurma-Avatar Dado 4 Ranganathan recorre à figura mitológica brâmane Kurma-Avatar para mostrar a importância da Documentação para nossa época. Esta comparação mostra sua erudição na filosofia brâmane, pois o conceito de Avatar é um dos mais difíceis de compreender e ele o usa com muita propriedade.

Segundo Ranganathan [1970, p. 289-313],o boom informacional, decorrente da explosão das publicações científicas e tecnológicas, tem de ser resolvido pela Documentação. Mas para mostrar a importância da mesma ele recorre à analogia com uma figura mitológica Brâmane:

"Preces foram necessárias para proteger o Universo yugas atrás, que foram respondidas pela vinda do Kurma Avatar de Visnu, para permitir ao mundo recobrar os valores perdidos pelo dilúvio. Kurma, a tartaruga divina, ofereceu seu casco para que os Deuses a fizessem de eixo para a vara da desnatadeira. Assim, foi possível recuperar os valores perdidos. Hoje, estamos novamente submersos em um oceano de assuntos. Visnu, protetor do Universo, vem e salva-nos. Mas Visnu vem agora como a Documentação."

A comparação feita é de que em tempos imemoriais o Kurma-Avatar, através de seu casco ajudou a salvar os valores perdidos no oceano de Leite. Hoje, a Documentação (a vinda do Kurma-Avatar como Documentação) salvará a Humanidade do Oceano de Assunto

Siva - como Kali e Nataraja Dado 5 Dutt fala que na escolha do termo 'Colon', em sua Colon Classification, Ranganathan utilizou-o em analogia aos termos sânscritos Virsaga e Sarga. Colon Classification significa Classificação de Dois Pontos. Estes dois pontos são Virsaga, que representa a inspiração do Absoluto (Brahman) e Sarga, que representa a expiração. Virsaga - a inspiração do Absoluto - é quando o Universo é destruído. Os brâmanes representam este estado pela figura mitológica de Siva como Kali. Sarga - a expiração do Absoluto - é quando o Universo é criado. Os brâmanes representam este estado pela figura mitológica de Siva como Nataraja.

Maya Dado 6 O conceito brâmane de Maya corresponde ao Plano Verbal, de Ranganathan [Ranganathan, 1970], que assim define o Plano Verbal: "é o plano da linguagem verbal como meio de comunicação. Este plano oculta o Plano Ideacional". Com esta definição, utiliza o termo Brâmane de Maya, o poder que oculta a realidade, como bem podemos verno Bhagavad Gita [Bhagavad Gita, 1993, p. 54]:"Detrás de minhas formas emanadas eu permaneço indescoberto e invisível ao ignorante".

Conhecimento Dado 7 : o plano Notacional de Ranganathan aponta para a utilização do conceitobrâmane de Conhecimento. Este plano "remove resíduos que são criados pelo Plano Verbal e que ocultam o Plano Ideacional" [Ranganathan, 1970,]. Maya é o poder criador que oculta a identidade do mesmo com sua criação e com Brahman.

Os resíduos precisam ser eliminados para se poder ver o plano criador e sua essência, como podemos ver no Bhagavad Gita, capítulo IV,canção 14 [Bhagavad Gita, 1993, p. 58], onde o Criador fala a Arjuna, seu discípulo:

"Em minha essência, sou livre dos efeitos das ações e não tenho desejo nenhum de obter recompensas ou gozar os frutos das minhas obras, pois estas coisas são produzidas pelo seu poder e não têm influência sobre mim. Em verdade, digo-te que quem é capaz de achar a solução deste enigma e me percebe como Eu sou em minha essência, fica livre dos efeitos das ações."

Estas coisas (os efeitos das ações e as obras do Criador) "são produzidas pelo meu poder e não têm influência sobre mim"- que o Criador fala - são a própria criação. Esse seu poder é Maya, força que ao mesmo tempo cria e encobre a realidade. Mas para poder achar a solução deste enigma, ou seja, que todas as coisas são produzidas pelo Criador mas que não têm influência sobre ele, é necessário o conhecimento. Este conhecimento vai tirando todos os resíduos que, segundo os brâmanes, os homens têm por causa de seu ego (eu sou grande, eu sou magro...) e que distorce a realidade, ao criar resíduos. O conhecimento os leva a decifrar o enigma e ver o criador em sua essência. Fica assim o homem salvo da roda da vida, ou seja, do ciclo de vida e morte. Na concepção dos brâmanes ele nunca mais vai se encarnar.

Conhecimento Dado 8: em 'save the time of the reader" [Ranganathan, 1951, p. 373] vemos a utilização do conceito 'salvar', por Ranganathan, no sentido de que a necessidade vital para Jiva ou Purusha, segundo os brâmanes, é o Conhecimento. E salvar o tempo do leitor é de fundamental importância para que Jiva ou Purusha possa obter as informações necessárias para aquisição do conhecimento, o qual liberta Jiva ou Purusha da roda da vida.

Jiva ou Purusha Dado 9 : sua segunda e terceira leis apontam para a utilização do conceitobrâmane de Jiva e Brahman. É de se destacar em seu livro The Five laws of Library Science [Ranganathanm 1963] a segunda lei "every reader his book"e a terceira, "every book its reader", como altamente representativas da influência da cultura brâmane em suas obras. Neste livro, ele utiliza apropriadamente a palavra inglesa "every", de acordo com a tradição Brâmane. Quando fala "every reader his book", podemos traduzir corretamente de duas formas (1) "para cada leitor seu livro" ou (2) "para todo leitor seu livro". Da mesma maneira, quando fala "every book its reader, "podemos traduzir: (1) "para cada livro seu leitor'ou (2) "para todo livro seu leitor". Isto, porque em inglês 'every' significa tanto Cada, como Todo. Para a visão holística brâmane isto é muito apropriado, pois o Cada (Jiva) é igual ao Todo (Brahman). Esse fato pode-se ver claramente no Bhagavad Gita (Bhagavad Gita, 1993, p. 160), em que Krishna fala a Arjuna: "Tat é o símbolo que indica que todos os entes têm seu Ser eternamente em Deus".

Os brâmanes comparam Jiva ou Purusha à água do Oceano e Brahman ao Oceano. Ou Jiva ou Purusha à centelha de fogo e Brahman ao Fogo, mostrando, com isso, que Jiva ou Purusha e Brahman são idênticos.

A influência da Cultura Brâmane na obra de Ranganathan fica, então, evidenciada, não apenas como resultado de sua formação brâmane, como pelouso de conceitos brâmanes como Brahman, Brahma, Visnu (como Kurma Avatar), Siva (como Kali e Nataraja), Maya, conhecimento e Jiva ou Purusha (no gráfico a seguir), mas , ainda, por sua visão holística.

Sumario

4.2 Cultura Chinesa e Ranganathan

Movimento Incessante Dado 1 Ranganathan apresenta seu universo do conhecimento e a espiral do desenvolvimento de assunto da seguinte forma:

1 a "O universo do conhecimento é a soma total no momento do conhecimento acumulado. Ele está sempre em desenvolvimento contínuo. Diferentes domínios do universo do conhecimento são desenvolvidos por diferentes métodos. O método científico é um dos métodos reconhecidos de desenvolvimento. O método científico é caracterizado pelo movimento sem fim em espiral"... "A espiural do desenvolvimento de assuntos é uma meta-espiral do conhecimento, pois é regida pelas mesmas leis do movimento contínuo e do dinamismo que regem a espiral do conhecimento". [RANGANATHAN, 1963]

No Tao Te Ching temos:

1 b "O que não pode ser visto, chamamos invisível
O que não pode ser escutado, inaudível.
Quando tocamos e não sentimos, dizemos que é impalpável.
Esses três objetos não podem ser sondados
desta forma, confundem-se e são considerados como o Uno.
Sua parte superior não é brilhante
sua inferior não é obscura.
Incessante é sua ação, mas mesmo assim não podemos dar-lhe nome" [Tao Te Ching, 1993, p. 27]

No I Ching temos

1 c "O que hoje conhecemos com o nome de I Ching, o livro das mutações, surgiu no período anterior à dinastia Chou (1150-249 a.C.), com figuras lineares, compostas de linhas inteiras e linhas interrompidas, superpostas em conjunto de três e seis linhas, chamados Kua (Signo). A tradição desses Kua era, até meados da dinastia Chou, identificada com a designação I, um ideograma de origem controvertida e que tem sido traduzido por mutação. A etimologia do ideograma I tem sido objeto de grande discussão. Segundo alguns autores, o ideograma teria sua origem no desenho de um camaleão, significando movimento (em virtude da agilidade dos lagartos) e mutação (em virtude do mimetismo). Outros autores sustentam que o ideograma em questão teria surgido de uma composição do ideograma 'Sol', na parte superior, com o ideograma 'Lua', na parte inferior. O sentido de mutações se deveria então ao contínuo movimento aparente do Sol e da Lua" no céu.
[I Ching, 1956, p. 15]

No Dado 1a Ranganathan fala que o Universo do Cconhecimento está sempre em desenvolvimento contínuo e que o método científico e a espiral do desenvolvimento de assuntos caracterizam-se pelo movimento sem fim em espiral.

No Dado 1b, vê-se que, ao descrever os atributos do Uno, o Tao te Ching fala "incessante é sua ação".

No Dado 1c, vê-se que a designação I do I Ching representa etimologicamente mutação.

4.2.1 Análise e Interpretação

O I Ching, considerado o livro chinês mais antigo, influenciou todo o pensar daquela cultura. Ainda hoje, a Cultura da China tem suas bases fincadas no mesmo. O princípio norteador de seu pensamento é que existe uma Unidade Absoluta, o Tao, de onde emanam duas energias complementares, o Yang e o Yin, que estão sempre em equilíbrio dinâmico. Esse equilíbrio dinâmico provoca um incessante movimento.

Comparando os dados a, b, c , vemos que o desenvolvimento contínuo e o movimento sem fim em espiral que Ranganathan fala em a é o mesmo do 'incessante é sua ação', em b e a representação do I como mutação em c . Desta forma, comprovamos ter a Cultura Chinesa influenciado a obra de Ranganathan, e não a Cultura Brâmane.

Existe um contraste entre o pensar 'Tempo', em termos de um destino em desenvolvimento, e pensar 'Espaço' em termos de Leis Naturais Eternas. O primeiro é representado sobretudo pelo homem de tato político, com senso do possível, que se tornaria, ele próprio, um destino e, segundo, pelo homem de conhecimento clerical ou científico, que controlaria os efeitos através da aplicação de Leis eternamente válidas. Aplicada ao contraste entre a China e a India nas principais afirmações de seus modos de pensamento e ação, essa diferença é reveladora. Pois na China foi o homem de estado e na India o sacerdote que colocaram seu selo em suas respectivas civilizações, e encontramos, de um lado, uma grande ênfase nos oráculos, investigando um destino mutável (direcionada no tempo), Tao, com vistas a uma realização política e, de outro lado, um sistema de Leis Imutáveis (campo espacial) sintetizado em fórmulas de Conhecimento concebidas como de verdade eterna.

Ao afirmar que o Universo do Conhecimento está sempre em desenvolvimento contínuo, que o método científico se caracteriza pelo movimento sem fim em espiral e que a espiral do desenvolvimento de assuntos é feita pelas mesmas Leis do movimento contínuo e do dinamismo que regem a espiral do Conhecimento, vê-se que os conceitos de Ranganathan estão relacionados à Cultura Chinesa de destino mutável, direcionado no tempo e não à Cultura Brâmane (representada na ïndia pela casta dos sacerdores), com seu sistema de Leis imutáveis direcionado no campo espacial.

Outro ponto importante a salientar é que, na realidade, não apenas a filosofia da China, mas também sua ciência e arte de governar sempre buscaram inspiração na fonte de sabedoria encontrada no I Ching, não sendo por isso motivo de surpresa que apenas este dentre todos os clássicos Confucionistas tenha escapado à grande queima de livros ocorrida no período de Ch'in Shih Huang T. Mesmo os aspectos mais simples da vida cotidiana da China estão embebidos de sua influência. Quando se percorre as ruas de uma cidade chinesa, encontra-se aqui e acolá, numa esquina qualquer, um adivinho sentado diante de uma mesa coberta com fino tecido, tendo à mão um pincel e uma pequenina tábua, pronto a extrair do antigo livro de sabedoria conselhos e informações relativos às dificuldades da vida diária. Não apenas isso: até mesmo os letreiros que ornamentam as casas, painéis verticais de madeira com pintura ou laca negra, trazem inscrições cujo estilo floreado reporta sempre a pensamentos ou citações do I Ching. Mesmo os dirigentes políticos de uma nação modernizada como o Japão, famosos por sua astúcia, não desprezam o recurso a seus conselhos quando confrontados com situações difíceis.

O conceito fundamental do I Ching encontra-se em oito Trigramas que foram concebidos como imagens de tudo o que ocorre no Céu e na Terra. Sustenta-se que eles sempre se acham num estado de contínua transição, o que podemos ver com a citação feita, item 1c. O sentido de mutação contido no I Ching está no mesmo sentido que os conceitos proferidos por Ranganathan sobre seu Universdo do Conhecimento, sua espiral do desenvolvimento de assuntos e o método científico.

Esse mesmo sentido vemos também no Tao Te Ching, que teve grande influência do I Ching. Ambas as obras influenciaram a obra de Ranganathan em especial em sua visão holística, conforme demonstrado acima, nas definições por ele apresentadas para Universo do Conhecimento, desenvolvimento de assuntos e o método científico.

Sumario

4.3 Astrologia e Ranganathan

Dado 1 Ranganathan, em sua The Five Laws of Library Science [RANGANATHAN, 1963], apresenta da seguinte forma as várias fases de desenvolvimento da espiral do Universo do Conhecimento:

Nadir - Apresenta a acumulação dos fatos obtidos pela observação, experimentação e outras formas de experiência. Ascendente - Apresenta a acumulação de leis indutivas ou empíricas em referência aos fatos acumulados em Nadir. Zênite - Apresenta as leis fundamentais formuladas, isto é, a compreensão de todas as leis indutivas ou empíricas acumuladas no Ascentence, com implicações obrigatórias. Descendente - Marca a acumulação das leis de dedução na direção das leis fundamentais de Zênite.

Dado 2 Howard Sasportas [SASPORTAS, 1985, p. 175], em seu livro As Doze casas astrológicas define os mesmos pontos da seguinte forma:

Do ponto de vista da posição de um observador na Terra, a qualquer hora do dia, um certo signo será visto elevando-se no leste, enquanto seu signo oposto (a 180 graus de distância) será visto no ponto a oeste. O grau que o signo ocupa no ponto mais ocidental do céu é chamado de grau ascendente, é o signo no qual se encontra o chamado ascendente ou signo ascendente. Astronomicamente, o ascendente marca a interseção da elítica com o horizonte do observador. Isso significa que é o encontro do Céu com a Terra. O ponto oposto ao ascendente é o descendente, o signo que se põe a oeste. A linha que liga o ascendente ao descendente é chamada de eixo do horizonte. Do mesmo modo, a qualquer hora do dia para um observador na Terra, determinado grau de certo signo estará culminando no meridiano superior, o ponto ao sul do local em questão. Ele é chamado de Meio-Céu ou MC, uma abreviação do termo latino Medium Coeli, o Meio do Céu. O ponto oposto ao Meio-Céu é chamado de Fundo-do-Céu ou IC, uma abreviação de Imum Coeli. A linha que liga o Meio-Céu com o Fundo-do-Céu é chamada de eixo meridiano. Esses quatro pontos são determinados astronomicamente. Chamado coletivamente de os ângulos, os signos que se encontram nestes pontos revelam muito a respeito da orientação do indivíduo às experiências básicas na vida.

O Meio-Céu é denominado também pelos astrólogos como Zênite e o Fundo do Céu como Nadir.

Dado 3 Ranganathan em sua The Five Laws of Library Science [RANGANATHAN, 1951, p. 551] divide a espiral do Universo do Conhecimento em quatro quadrantes:

Quadrante 1 - Situa-se entre o Descendente e o Nadir. Corresponde ao estágio do desenvolvimento do domínio do Universo do Conhecimento, onde os fatos são encontrados e registrados. Neles estão inseridos os seguintes conceitos: experimentação, observação, concretude e particularização.
Quadrante 2 - Situa-se entre o Nadir e o Ascendente. Corresponde ao momento em que as leis emmpíricas ou indutivas são formuladas e registradas. São os seguintes conceitos nele inseridos: intelecto, indução, abstração e generalização.
Quadrante 3 - Situa-se entre o Ascendente e o Zênite. Corresponde ao estágio em que as leis fundamentais são entendidas e registradas. Conceitos inseridos: intuição, abstração e generalização.
Quadrante 4 - Situa-se entre o Zênite e o Descendente. Corresponde ao momento em que as leis dedutivas são derivadas e registradas. Conceitos inseridos: intelecto, particularização, dedução e concretude.

Dado 4 Howard Sasportas, falando sobre hemisférios e quadrantes, afirma que a linha do horizonte divide o mapa num hemisfério superior (sul) e num hemisfério inferior (norte). As casas que se localizam abaixo do horizonte (da primeira à sexta) estão mais diretamente ligadas ao desenvolvimento do indivíduo, a identidade separada e aos requisitos básicos que a pessoa precisa para viver. São conhecidos como as casas pessoais. As casas que ficam acima do horizonte (da sétima à décima segunda) focalizam a conexão de um indivíduo com outros num nível íntimo de pessoa para pessoa, em termos de sociedade como um todo e com relação ao resto da criação. São conhecidas como as casas coletivas. O eixo meridiano cruza a linha do horizonte cortando o horizonte ao meio e gerando outra divisão na roda das casas, os quatro quadrantes.

4.3.1 Análise e Interpretação

Ao compararmos os dados 1 e 2, observamos que a terminologia utilizada por Ranganathan em sua divisão das várias fases do desenvolvimento da espiral do Universo do Conhecimento é a mesma utilizada pelos astrólogos na divisão dos quatro eixos básicos da Astrologia. Essa terminologia é fruto da interseção do movimento da eclítica com as progressões dos pontos polares e equatoriais, sendo um conceito astrológico, pois trabalha com o movimento aparente do Sol em torno da Terra. A Astronomia tem seu fundamento no sistema de Ptolomeu do Universo (teoria geocêntrica) - expressando o homem como centro do Universo, pois é ele que vive e experimenta o mesmo. Então, a Astrologia se baseia no movimento aparente do Sol em torno da Terra, chamado de eclítica.

Pelo gráfico 4 a seguir, vemos que a interseção da eclítica com os pontos progredidos do equador e dos polos recebe os nomes de Ascendente, Descendente, Zênite (Meio-Céu) e Nadir (Fundo-do-Céu). Esses pontos são aparentes e não reais, pois são causados pelo movimento de eclítica. Esses pontos trazem uma implicação psicológica (na Astrologia são chamados a cruz do Ser) para o indivíduo.

Podemos afirmar - com toda a explanação acima, que a terminologia utilizada por Ranganathan- Ascendente, Descendente, MZênite e Nadir - pertence à Astrologia e se baseia na visão do homem do movimento aparente do Sol em torno da Terra.

A compararmos os dados 3 e 4 observamos que tanto Ranganathan - ao proceder sua divisão da espiral do Universo do Conhecimento -, como os astrólogos - ao proceder à divisão dos quatro eixos fundamentais da Astrologia -, utilizam a mesma terminologia, a dos quadrantes.

Quando os pontos Ascendente, Descendente, Zênite e Nadir vão em direção ao centro da Terra (representado pelo homem - já que é por sua visão e experimentação que a Astrologia existe), dividem-se em quatro, os quatro quadrantes da Astrologia.

Podemos afirmar que os termos dos quadrantes utilizados por Ranganathan são os mesmos da Astrologia.

No gráfico 5, que estabelece um paralelo entre Ranganathan, holismo e astrologia, vemos que, para a Astrologia, todo quadrante agrega conceitos, visto que ela mostra o homem como totalidade operativa e sua integração com o Todo. Nela, os quadrantes mostram como o homem opera nos diversos campos de sua totalidade aqui na Terra.

Para uma melhor compreensão do gráfico, será trabalhado a seguir somente um conceito de cada quadrante, confrontado com o de Ranganathan, para se estabelecer a identidade dos conceitos.

O quadrante I da Astrologia, representado por Aries, mostra a infância do homem, onde das experiências particulares que ele vive como criança ele tira uma conclusão genérica. Este raciocínio em que de fatos particulares se tira uma conclusão genérica chama-se indução, o mesmo conceito formulado por Ranganarhan para um de seus quadrantes.

No quadrante II, representado por Virgem, a experimentação se torna mais intensificada pois a criança começa a ter uma capacidade de raciocínio maior, o que traz uma maior curiosidade e uma maior experimentação. Então, nesse quadrante para a Astrologia tem-se o conceito principal de experimentação. Ranganathan também utiliza o conceito experimentação para um de seus quadrantes.

O quadrante III, representado por Capricörnio (Zênite) significa o Estado que governa por Leis fundamentais que todos têm que cumprir. Vemos pelo Gráfico Astrologia, Holismo e Ranganathan que ele utiliza a mesma terminologia - Leis fundamentais - para descrever seu quadrante do Zênite.

O quadrante IV, representado por Peixes, mostra o período da vida do homem de sua aposentadoria, pois tudo o que tinha que ser feito no Mundo, ele cumpriu até o final do quadrante III; então, ele pode se abstrair para pensar e pesar dosos os seus atos feitos até esse momento. O conceito principal desse quadrante é a abstração. Vemos pela interpretação desse gráfico que Ranganathan também utilizou o conceito abstração para um de seus quadrantes.

Com a explinação acima, podemos afirmar que o conceito de quadrante e os conceitos inseridos em cada um deles, por Ranganathan, em sua divisão da espiral do Universo do conhecimento, estão de acordo com os mesmos de cada quadrante da Astrologia.

A terminologia e os conceitos utilizados por Ranganathan comprovam de forma inequívoca a influência da Astrologia na visão holística de Ranganathan.

Sumario

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O holismo está presente nas Culturas Brâmane, Chinesa e também na Astrologia. Quando falamos sobre a visão holística da Cultura Brâmane dissemos que ela é orientada para o campo espacial, ou seja, formada por um sistema de leis imutáveis, sintetizada em fórmulas de Conhecimento concebidas como de verdade eterna. Esta forma de holismo está presenta na visão holísitca de Ranganathan em partes importantes de sua Teoria: no método residual para identificar a personalidade (não é isso, não é isso); em seus Planos Ideacional, Verbal e Notacional, em suas Primeira, Segunda, Terceira e Quarta Leis da Biblioteconomia; em sua comparação da importância da Documentação com Kurma-Avatar; e em sua definição de Colon Classification.

Esta forma de holismo orientada para o campo espacial também está presente na Astrologia, pois também ela trabalha com um sistema de Leis imutáveis, sintetizado em fórmulas de Conhecimento concebidas como de verdade eterna. Estas fórmulas de Conhecimento influenciaram a visão holística de Ranganathan ao dividir as várias fases de desenvolvimento da espiral do Universo do Conhecimento utilizando a terminologia e os conceitos astrológicos de Ascendente, Descendente, Zênite e Nadir, e dos quatro quadrantes.

Para nossa surpresa, constatamos que Ranganathan incluiu em sua Teoria uma direção temporal em termos de um destino em movimento, o seu Universo do Conhecimento e a espiral de desenvolvimento de assuntos. É a Cultura Chinesa que oferece uma direção temporal, ao dar ênfase nos oráculos, investigando um destino mutável, ou seja, o Tao, com vistas a uma realização política.

É importante salientar que, quando Ranganathan fala da espiral de desenvolvimento de assuntos, sua direção é temporal, mostrando, assim, a influência da Cultura chinesa em sua visão holística. Isso pôde ser comprovado no capítulo 4, quaando ele fala que a espiral do desenvolvimento de assuntos é regida pelas mesmas leis do movimento contínuo e do dinamismo que regem a espiral do Conhecimento. Mas, quando descreve as várias fases de desenvolvimento dessa espiral, ele direciiona para o espaço, em termos de leis naturais eternas, por isso usa a Astrologia.

Por fim, é importante salientar que Ranganathan usou duas abordagens de holismo: a direcionada no espaço, representada pela Cultura Brâmane e pela Astrologia, e a direcionada no tempo, representada pela Cultura Chinesa.

Sumario

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Esta pesquisa foi apresentada originalmente como Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação (UFRJ, em 1996). Foi editada para divulgação na Internet, com os ajustes requeridos para este veículo.

 

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