ELABORAÇÃO DE TESAURO DOCUMENTÁRIO
O termo é constituído por uma palavra ou por um grupo de palavras. O termo
é a menor unidade de representação do conceito e, como tal, indivisível na indexação
e nos tesauros. É impróprio, portanto, do ponto de vista conceitual, falar-se
de 'termo simples' ou 'termo composto' na elaboração de tesauros ou na indexação.
O termo é a designação do conceito. Nas ciências ele pode ter várias formas como um código, uma fórmula, ou outro símbolo qualquer. É possível que, dadas as facilidades que a informática vem oferecendo, estas outras formas possam ser incorporadas ao tesauro, como equivalentes de sua designação verbal. Esta última tem sido utilizada para que os conceitos possam ser manipulados.
Diferentemente da palavra, o termo tem seu significado assegurado, mesmo fora de contexto, ou seja, isoladamente. Mas, por sua natureza lingüística, algumas armadilhas podem se apresentar quando da análise do conceito e sua categorização.
Mesmo sabendo-se que a análise do conceito se dá a partir do referente - daquilo a que o termo se refere - e não da palavra, é a expressão verbal que se apresenta como elemento de manipulação, ou seja, tal análise é feita via termo. Alguns fenômenos da língua podem ocorrer numa área de assunto. Os mais comuns são:
Embora na língua geral o fenômeno da sinonímia total não ocorra, na área técnica ele é mais freqüente do que se imagina. A identificação dos sinônimos se dá durante a análise e sistematização dos conceitos. É mais correto, nos tesauros, identificá-los como termos equivalentes.
Exemplo: Antídoto e Contraveneno.
Nos tesauros, um deles é o termo preferido (ou descritor); do outro, faz-se uma remissiva:
ANTÍDOTO
up ContravenenoContraveneno
USE ANTÍDOTO
O uso de maiúscula para os termos preferidose o de minúsculas para os termos não-preferidos tem por finalidade fácil visualização para o indexador que assim, num golpe de vista, fica alertado para o status do termo.
Exercício: No glossário sobre Teatro, identifique as relações de equivalência.
Diz-se que há quase-sinonímia quando dois conceitos têm praticamente a mesma intensão{def.). Quando isto ocorre, pode-se tomar uma das seguintes decisões:
A decisão deve levar em conta fatores como objetivos do tesauro, características da clientela, volume da literatura.
A homonímia, via de regra, não ocorre porque a atividade terminológica se dá sempre numa área de assunto específica. Excepcionalmente isso pode acontecer; neste caso, um qualificador pode resolver a questão.
Exemplo 1:
Tênis (calçado)
Tênis (esporte)Exemplo 2:
Análise gramatical
Análise lógica
A metonímia é um fenômeno comum. Se ficarmos no plano da língua, certamente poderemos cometer enganos. Se, no entanto, iniciarmos a atividade pelo referente, então o fenômeno virá à luz e - muito importante - o conceito será estruturado em seu devido lugar.
Na Agroecologia, por exemplo, encontramos a expressão 'cobertura morta' definida ora como material, ora como técnica. Somente quando nos deparamos com os termos em inglês, percebemos o que se passa. Em inglês, 'mulch' é o termo que designa o material empregado para cobrir o solo e 'mulching' o termo que designa a técnica de cobrir o solo com alguns materiais específicos. Temos um homônimo? Não. Temos um termo 'cobertura morta' que designa a técnica e 'material de cobertura morta' que designa a palha, as pedras, areias, etc., empregados para cobrir o solo. É evidente que, no discurso, fica subentendido quando se trata de um, quando se trata de outro e que, por questão de economia, empregamos apenas a expressão 'cobertura morta' mesmo quando queremos designar o material. Isolados, os termos ficam ambíguos. Então é preciso estabelecer uma diferença entre eles. Por exemplo, 'cobertura morta' e 'material de cobertura morta', estabelecendo-se uima relação associativa entre os dois, para guiar indexador e usuário para o termo mais adequado à indexação/busca.
Outros exemplos:
1) Na área de Doces: 'Bala de goma' é referida por 'Goma'.
2) Na área de Tintas: 'Tinta esmaltada' é referida por 'Esmalte'.
Se ficarmos apenas no plano da língua, podemos classificar mal estes nomes - pois não estaríamos lidando com o conceito, mas com as palavras.
É muito comum usar uma palavra com sentido figurado, inclusive na língua técnica. Se ficarmos no plano da língua também cometeremos enganos de classificação.
Exemplos:
1) Na área de Bebidas: Tomemos os termos 'Conhaque' e 'Conhaque de gengibre. 'Conhaque' designa 'um tipo de bebida alcoólica fermentada-destilada a partir do vinho'. 'Conhaque' não pode, portanto, ser considerado um termo genérico de 'Conhaque de gengibre', pois esta bebida é um destilado de cana-de-açucar adicionado de gengibre, como substância aromática.Entre eles existe uma associação determinada pela denominação, sendo indicada nos tesauros como relação associativa (TA):
Conhaque
TA Conhaque de gengibreConhaque de gengibre
TA Conhaque2) Na área de Alimentos, é interessante lembrar o esforço de uma indústria de carnes processadas, que procurou a Câmara dos Deputados para alterar a legislação que estabelecia as propriedades desejáveis para o Presunto. Tal indústria estava produzindo um 'presunto' de peru. Neste caso, um qualificador acrescentado a ambos restabelece o significado preciso, ou seja, de fato, temos dois conceitos: 'presunto [de porco]' e 'presunto' de peru. Atualmente temos até 'presunto' de chester... Quando este fenômeno ocorre, a inclusão do qualificador no termo inicial 'de porco', resolve a questão. A língua não possui, no entanto, um termo para reunir os três tipos de carne processada, a menos que se redefina 'presunto', de forma genérica, de sorte a incluir os 'tipos'. Entre estes termos existe um associação, determinada pela denominação, sendo indicada nos tesauros como relação associativa:
Presunto de chester
TA Presunto de peru
TA Presunto de porcoPresunto de peru
TA Presunto de chester
TA Presunto de porcoPresunto de porco
TA Presunto de chester
TA Presunto de peru3) Outro exemplo, é o caso do vinagre. Depois que surgiram outros 'vinagres', como o 'vinagre de maçã', 'vinagre de arroz', o 'vinagre'inicalmente de vinho, precisa ser agora qualificado como 'vinagre de vinho' (temos até o vinagre de vinho tinto e o vinagre de vinho branco), o que parece uma redundância, mas que se justifica para clareza da comunicação. Felizmente, neste caso, temos o termo Condimento para reunir os 'vinagres', podendo figurar assim, na parte alfabética do tesauro:
Condimento
TE Vinagre de arroz
TE Vinagre de maçã
TE Vinagre de vinhoVinagre de arroz
TG CondimentoVinagre de maçã
TG CondimentoVinagre de vinho
TG Condimento
TE Vinagre de vinho branco
TE Vinagre de vinho tintoVinagre de vinho branco
TG Vinagre de vinhoVinagre de vinho tinto
TG Vinagre de vinho
É evidente que esta estrutura requer uma nova definição para os diversos tipos de 'vinagre' considerados, aqui, como 'condimentos'. Então, 'vinagre de arroz' define-se como 'condimento...' e assim por diante.
Entre os termos específicos cria-se excepcionalmente, uma relação associativa (TA) como única forma de agrupá-los e mostrar ao leitor. Se não houver um conceito genérico para reunir tais termos, como no caso de 'condimentos', então cria-se apenas a relação associativa entre eles.
Este é outro fenômeno que pode induzir a erro de classificação, se ficarmos apenas no plano da língua. Ele ocorre quando o adjetivo - melhor dizendo, o determinante - é que indica a classe a que o conceito pertence, e não o substantivo - ou determinado.
Exemplo 1: Couro sintético - não é Couro; é um produto sintético que pode ser usado como substituto do couro (que, por definição, é de origem animal). Assim, é falsa a cadeia:
Couro
TE Couro sintético
Nestes casos, estabelece-se entre os termos uma relação associativa para mantê-los próximos à vista, ficando, no entanto, cada termo em sua respectiva classe. O correto, então, seria:
Couro
TA Couro sintéticoExemplo 2: Peixe fóssil - não é peixe; é um fóssil.
Exemplo 3: Flor artificial - não é uma flor; é um objeto em forma de flor.
Os adjetivos 'sintético' e 'artificial' auxiliam na identificação dos conceitos, mas não são os únicos.
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